domingo, 13 de novembro de 2011

Uma missão

Que queres?
Sem pretensão pergunto
O que queres?
Confiar em mim,
confiar a mim?
É tão difícil
Sem forças n'alma pergunto
Que queres?

Como fazes?
Sem esperança pergunto
Como fazes?
Ocultar a si mesmo
a favor de uma alma?
É tão difícil
Como fazes?

A quem pedes?
dentro em mim pergunto
A quem pedes ajuda?
Ajuda para conseguir ajudar
É tão difícil
A quem pedes?

Ter esperança
Mesmo quando não há motivos
Para ter esperança.
Amar como a si mesmo.
A única resposta que encontrei.

Por Acsa Brito.

Olhares

Andei distante daqui,
Subi ao céu e voltei.
Enquanto subia, via-os diminuírem
e em meu olhar,
vi o olhares sumirem.

Lá de longe percebi
A insignificância de cada olhar
Diante da imensidão
do olhar do universo

Senti-me feliz.

Distante dos olhares,
enxerguei a mim mesmo.
Senti-me incapaz,
Era eu também apenas um olhar.

Voltei então à terra e abri os olhos.
Vi e revi o que não mais via
Os olhares.

Encontrei olhares de vergonha
Esses eram apenas "quase olhares"
Olhavam-me de cabeça baixa,
tentando esconder do meu olhar o seu ser.

Vi olhares de impureza
Exalavam perfume de luxúria
E como ácido corroíam outros olhares
Fechei meus olhos imediatamente
Antes que me queimasse a retina.

Vi olhares de arrogância
Uma altivez intimidadora
Olhavam-me como de cima
Desses, sinceramente,
tive eu piedade.
Não conheciam a insignificância
de seus próprios olhares.

Olhei ao lado e vi
Olhares de inferioridade
Olhavam-me com admiração
Como se meus olhos estivessem acima dos seus
Senti-me inútil
Em não conseguir com um olhar
Mostrar-lhes meu desvalor.

Andei pelas ruas,
Encontrei tantos mais olhares
Perdidos na imensidão de seus vazios
Procurando em outros olhares
O segredo oculto do olhar do universo.

Não entendi o porquê de todos esses olhares
Tão sedentos no deserto
Destruindo-se mutuamente
Senti saudade do Olhar
Aquele Olhar confiável de paz
Resolvi então fechar meus olhos
e chorei.

Por Acsa Brito.

sábado, 5 de novembro de 2011

Pausas

Uma lágrima escorrendo pela face,
Única fonte de água no deserto.
Desabrocha de repente por entre as rochas,
Descontroladamente.
Vertendo tristeza,
Dúvida,
Fraqueza,
Insegurança,
Medo
Do amanhã, talvez.
Do hoje, quem sabe.

Canta e ouve som de distância,
Fala e sente a voz do silêncio.
Murmúrios de nó na garganta.
Resquícios de poeira de mundo.
Mundo cruel.

Indagação de olhares:
O que se passa?
O que se sente?
O que diz?

Respostas que se apresentam em atos.
Esvaziar-se.
Afastar-se de si mesma,
Dos outros,
Da areia que se move para longe
- Afastando-me do que me afasta.
Correr de volta à procura do oásis.

E encontrar.
Ou reencontrar
Em simples Palavras de Vida.
Um desesperadamente consolador
Aroma de terra molhada,
Trazendo de volta o que se foi.

E tudo volta a ser
Como o entardecer de cores calmas,
Num singular descanso ao som dos pássaros.

Por Acsa Brito.